domingo, 20 de julho de 2014

AS PINÇAS DO SIGNO DE CÂNCER (IV)


Lua em movimento. Fonte: Encyclopaedia Britannica Blog.

Bem, a Lua que está lá no céu todos a conhecem. Dispensa apresentações. De qualquer jeito, nunca é demais lembrar ou até descobrir alguns aspectos curiosos sobre esse corpo celeste tão familiar aos seres humanos.

A Lua

Os astronautas viam a superfície poeirenta da Lua em tons de bronze e castanho, como areia da praia, quando estavam voltados para o Sol. Mas ela tornava-se cinzenta se a olhassem da direção oposta – e negra ao escavarem amostras para colocar em sacos plásticos. O brilho preternatural da luz solar nua e crua transtornou sua percepção de cor e profundidade, e também a das chapas fotográficas.

O semblante da Lua visto da Terra, resultado da prestidigitação da luz, não é menos ilusório. Que outra explicação pode haver para seu fulgor prateado, se este advém de poeira e rochas negras como fuligem? As formações umbrosas que delineiam a figura de um rosto na Lua refletem apenas 5% a 10% da luz solar que chega a elas e até os mais reluzentes planaltos lunares não devolvem mais do que 12% a 18% da luz que recebem, o que torna nosso satélite, no geral, tão brilhante quanto uma rua asfaltada. Mas sua superfície áspera e rugosa, polvilhada com partículas irregulares de pó lunar, multiplica as miríades de planos onde a luz pode bater e ricochetear. É assim que a poeira bronze, cinza e preta veste a Lua em brilho branco. E, quando a contemplamos contra o pano de fundo sombrio do céu noturno, ela nos parece ainda mais branca.

É apenas durante alguns dias em cada mês que ela desaparece verdadeiramente, invisibilizada nas cercanias do Sol. O restante do tempo, a inelutável Lua muda de forma hora a hora, crescendo e minguando e clamando por atenção.

O primeiro vislumbre que temos da jovem Lua é como um sorriso ao entardecer. Embora somente um ínfimo filete crescente prateado brilhe sobre nós no início do ciclo lunar, o restante do astro já se revela em formas vagamente discerníveis, como se a velha Lua repousasse nos braços da jovem Lua.

Quando a Lua percorreu um quarto da sua trajetória em torno da Terra, a luz do Sol cobre metade de sua face. Não demorará até que a linha que separa a parte iluminada da parte escura, chamada terminator, se curve como um arco, alumiando uma área ainda maior da superfície lunar e acentuando-lhe a convexidade. Essas fases da expansão lunar, que se desdobram sucessivamente – desde a plena escuridão e as primeiras nesgas visíveis até a Lua crescente e cheia –, são uma promessa de crescimento.

A Lua cheia, que nasce ao pôr-do-sol, promove uma ilusão de grandeza que dobra ou até triplica seu tamanho aparente. O esplendor dessa vista provém de nossa percepção mental do horizonte como um lugar remoto onde tudo que assoma como grande deve ser verdadeiramente gigantesco. Mais tarde, noite alta depois que avançou céu acima, uma outra escala de distância se aplica e a Lua retoma suas dimensões normais.

Quase todas as Luas cheias do ano mereceram ao menos um epíteto associando-a às sazões perdidas da tradição – Lua do Lobo (janeiro), Lua da Neve (novembro), Lua da Seiva, Lua dos Corvos, Lua das Flores, Lua das Rosas, Lua do Trovão, Lua dos Esturjões, Lua da Colheita (setembro), Lua dos Caçadores, Lua dos Castores, Lua Fria (dezembro).

Nada nem ninguém pode fazer com que a água dos mares escuros da Lua se mostre, pois são todos secos. Os ditos mares nunca conheceram a presença da água. Bone-dry, "secas como ossos", é como as amostras lunares foram descritas, embora fossem bem mais secas do que ossos. Secas como pó, então? Não, ainda mais secas. As pedras lunares estabeleceram um novo padrão de secura, caracterizado pela total ausência de água. Nem uma gotícula de água, nem uma bolha de vapor esconde-se furtivamente na treliça de cristais das rochas lunares. Na ausência de água como um ingrediente possível, a criatividade da Lua limitou-se a uma mera centena de minerais, enquanto a úmida Terra engendrou milhares e milhares de variedades de minerais.


Árida, a Lua atrai os mares da Terra como se os invejasse. Duas vezes ao dia, a maré sobe e desce sob comando da gravidade lunar. Todos os corpos de água do nosso planeta se elevam quando passam sob a Lua, o que faz sentido intuitivo, mas então se elevam novamente depois de circularem até o outro lado, oposto a onde a Lua se encontra.

As marés terrestres reagem à gravidade solar, como à lunar. Porém, quando o Sol e a Lua se enfileiram com a Terra numa linha reta que cruza os céus, como acontece em todo novilúnio e plenilúnio, os três astros conspiram para elevar as marés ainda mais. Se tal alinhamento, ou sizígia, ocorrer no momento em que a Lua estiver mais próxima da Terra, isto é, no perigeu, tanto mais alto subirão as marés.

Enquanto a Lua puxa e empuxa os oceanos terrestres, a Terra arrasta a Lua para si com a força superior de sua massa maior. A luta inquieta pelo poder entre os dois corpos acabou reduzindo a rotação do nosso satélite para cerca de quinze quilômetros por hora. Girando assim devagar, a Lua demora quase tanto tempo para girar em torno de seu eixo quanto para completar sua órbita mensal de cerca de 2,5 milhões de quilômetros. É como se a Terra a houvesse coagido a um padrão cerrado de rotação e revolução (ao qual se dá o nome de earthlock), que faz com que ela sempre mantenha a mesma face respeitosa voltada para nós.

A rotação diária da Terra em torno de seu eixo e a sua revolução anual em torno do Sol recusam-se a se engrenar com a órbita mensal da Lua. Combinar as idiossincrasias temporais solares e lunares sempre exigiu fórmulas complexas para alternar entre anos de doze e de treze meses (o que desde sempre conferiu ao número treze uma aura de azar) ou para legislar a duração dos meses em si.

Na Lua, um único intervalo de tempo – o nosso mês lunar – serve igualmente para o dia e para o ano. No decorrer desse ano diário ou dia anual, em que ela completa um giro em torno de seu eixo e um giro em torno da Terra, a luz e o calor do Sol espalham-se primeiro sobre um de seus hemisférios e depois sobre o outro, concedendo a cada um cerca de duas semanas contínuas de luz natural, seguidas de uma gélida quinzena de noite ininterrupta.

Toda fermentação geológica na Lua cessou há cerca de 3 bilhões de anos, depois que o intenso bombardeio tardio livrou o Sistema Solar dos maiores e mais ameaçadores projéteis. Hoje, meteoritos de uma tonelada não atingem a Lua mais de uma vez a cada três anos, em média. Os abalos sísmicos ocasionais podem ser considerados, sem medo de errar, como uma reação débil ao estresse gravitacional, não como palpitações de um planeta vivo com um núcleo líquido.

Apenas micrometeoritos continuam a cair constantemente sobre a Lua inerte, tornando o manto de poeira em sua superfície cerca de um milionésimo de milímetro mais espesso a cada ano. Esse influxo é a principal força tectônica que hoje atua na Lua. Os selenologistas chamam isso de "manter o jardim", pois esses recém-chegados reviram e revolvem o "solo" estéril do astro ao se inserirem nele, onde a pegada de uma bota tem expectativa de vida de 1 milhão de anos e cada partícula de pó possui um quê de imortalidade.

Os Planetas, D. S.

Alisson Batista

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