sábado, 20 de setembro de 2014

A TÉCNICA DO SIGNO DE VIRGEM VI


A Virgem e o menino - bizantino. Fonte: Blogue Sobre a História da Arte.

A todo homem o espírito concede um dom de acordo com sua necessidade mais característica, pois o espírito é aquele que enche todo o reservatório vazio com a radiância da satisfação. Cada receptáculo – cada tipo de ser humano – clama de suas profundezas por aquela substância inestimável que lhe serão águas vivas para a sede. No entanto, muitos avaliam mal suas mais íntimas necessidades. Vivem à superfície de si mesmos.

No tipo humano de Virgem, a própria substância da identidade consciente se encontra em “estado crítico” – num estado comparável ao que exise entre o gelo e a água líquida, quando a solidez escorrega hesitante para a liquidez desconhecida, o estático para o dinâmico, o inflexível para o multiforme.

Virgem assinala a fase da metamorfose em que o ego consciente sente o impacto do mundo de total relatividade e de participação num todo maior do qual deve ser apenas uma dentre muitas outras partes. Ele sente esse impacto, e recua com medo ou em confusão, com angústia ou dor. Suas profundezas abaladas por misteriosas revoluções, ele procura explicar, formular, criticar, fugir, inventar muitos e formidáveis substitutos, fazer-se devoto de deuses exóticos. Experimenta toda maneira possível de se manter em ação, de pensar, de avaliar – enquanto que a única coisa necessária é simplesmente estar quieto e em silêncio, para suportar a pressão da evolução, a fatalidade da metamorfose.

Mantendo um tipo de atividade mental forçada e exageradamente ansiosa, o ego brinda-se com a ilusão de que seu poder é ainda supremo. Tal comportamento indica que o ego tem, realmente, aprendido e está disposto a aprender novos meios de ajustamento à experiência. No entanto. todos esses esforços ainda são controlados pelo ego. Eles ainda dizem respeito às camadas superiores do ser, ao gargalo do vaso e não à sua profundeza interior. Não contestam o fator essencial: a qualidade do ego propriamente dito, o valor e o significado de sua autoridade ou de seus privilégios.

Significará isto, então, que o ego deve abdicar de seu domínio? Que deve deixar as potências amorfas do inconsciente irromperem à superfície do ser e devastar todas as estruturas de seu reino? O necessário, durante a crise simbolizada por Virgem, é a “transfiguração” ainda mais que a “transformação”. A substância da consciência e da identidade deve se renovar; e como subproduto dessa renovação vai necessariamente uma redeclaração de propósito.

As estruturas do ego podem ser conservadas, mas a finalidade dessas estruturas e do próprio ego deve se renovar; o conteúdo obscuro e pesado da consciência deve transformar-se em fulgor e luz. Esta é a nossa crise. Este é o nosso desafio de Virgem. Esta é a nossa necessidade. E a esta necessidade o espírito responde com uma palavra de profundo significado, ainda que pouco compreendida: tolerância.

Tolerância não é ausência de intolerância. Não significa simplesmente deixar de pôr defeitos no que os outros pensam, sentem ou fazem. Significa etimologicamente “suportar”. Suportar o quê? – O peso da necessidade de mudança e de desenvolvimento. Ser tolerante é arcar com a responsabilidade de uma busca incessante de conhecimento mais amplo, de sentimentos menos estreitos e de comportamento mais ajustável. Significa a capacidade de erguer-se em prontidão e com o coração aberto quando Deus bate à porta e chama o indivíduo – e a nação – para seus maiores destinos. É a capacidade de desenvolver-se tornando-se cada vez mais abrangente.


Tolerância não é virtude negativa. É uma atitude positiva e consciente que se refere à pessoa e a suas crenças, muito mais do que a alguma outra pessoa ou opinião. Com Virgem, o hemiciclo zodiacal iniciado em Áries chega ao fim. O dom do espírito para o tipo de atividade de Áries é o da “adaptabilidade”. Mas, no estágio de Áries da resposta humana, a adaptabilidade à vida opera essencialmente ao nível instintivo, ou pelo menos acional. Deve tornar-se, no estágio de Virgem, uma clara compreensão de que nenhuma verdade é completa, ou sequer real, se não incluir o seu oposto – e tudo o mais que ocorrer entre ambos!

Apenas essa compreensão pode ser o fundamento da verdadeira tolerância. A tolerância é a disposição de aceitar as crucificações que representam os resultados inevitáveis da aceitação de todos os opostos, o necessário prelúdio da abrangência e da integração. É a essência dinâmica do desenvolvimento da consciência do homem – o caminho para a divindade.

A tolerância, a compaixão e a caridade são as três grandes virtudes cuja aquisição favorece o caminho do tipo de pessoa de Virgem – e, em maior ou menor grau, de todos os seres humandos. A tolerância diz respeito mais especificamente à mente, a compaixão ao coração, e a caridade refere-se mais aos domínios da ação; entretanto, todas as três são manifestações da mesma raiz profunda – a disposição a desenvolver-se por efeito de experimentar e assimilar aspectos sempre mais numerosos e variados da verdade, do amor e da ação sacrificial.

Essas três grandes virtudes favorecem o caminho de Virgem, porque nesse caminho encontra-se uma especial necessidade delas. Nesse caminho de crise e de reorientação pessoal, é tão fácil concentrar-se nas tribulações imediatas que os obstáculos ao desenvolvimento são magnificados a expensas da clara compreensão da finalidade que a crise deve revelar ao homem que a aceita sem ressentimento, rebelião ou angústia.

A preocupação de Virgem com detalhes de trabalho, com técnica, com saúde e higiene, com vivissecções analíticas de si mesmo e dos outros é, na realidade, uma focalização nos valores negativos da crise. Todas essas características tradicionais de Virgem devem ser apresentadas tais quais realmente são: paliativos e substitutos do único grande esforço realmente necessário.

A grande crise do desenvolvimento pessoal que vem com o simbolismo de Virgem implica não só uma mudança nos conteúdos do corpo ou do ego, mas um enfoque inteiramente novo do próprio continente. Purificar o corpo ou o ego não é o bastante. Absorver a sombra que eles projetam, “saltar sobre ela” e assim dissolvê-la ou dissipá-la: é este o grande problema a cuja solução a crise da metamorfose pessoal deve ser dedicada.

Essa operação misteriosa e intrigante está ao fundo de todos os esforços menores que caracterizam a fase de Virgem da evolução humana. É a “grande obra” dos verdadeiros Alquimistas. O caminho para a divindade é através de nossa própria sombra. O modo de assimilar toda a verdade é assimilar o ego que procura conhecer toda a verdade.

Tríptico Astrológico, D. R.

Alisson Batista

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