sábado, 20 de dezembro de 2014

O ALVO DO SIGNO DE SAGITÁRIO IV


A batalha dos Centauros. Fonte: Florentinus 1978.

Os Centauros

Seres monstruosos da mitologia grega, cuja cabeça, braço e tronco são os de um homem, e o resto do corpo e as pernas, de um cavalo. Os Centauros vivem com suas fêmeas, as Centauras; nas florestas e nas montanhas, alimentam-se de carne crua; não podem beber vinho sem embriagar-se; são muito inclinados a raptar e violar as mulheres. Geralmente, aparecem em bandos: significam a besta no homem, de infinitos aspectos.

Segundo contam as lendas, os Centauros repartiram-se em duas grandes famílias. Os filhos de Ixiã e de uma das oceânidas (nome dado às três mil ninfas, filhas de Tétis e de seu irmão, o Oceano) simbolizam a força bruta, insensata e cega; os filhos de Filira e de Cronos, dentre os quais o Centauro Quirão é o mais célebre, representam, ao contrário, a força aliada à bondade, a serviço dos bons combates.

Médico muito hábil, amigo de Héracles, Quirão luta ao lado deste no combate contra outros Centauros. Ferido por engano por uma flecha atirada por Héracles, e desejando morrer, Quirão oferecerá seu privilégio de imortalidade a Prometeu, para conseguir finalmente conhecer o repouso eterno. Sem dúvida, há poucos mitos tão instrutivos como este sobre os profundos conflitos entre o instinto e a razão.

Nas obras de arte, o rosto dos Centauros traz geralmente a marca da tristeza. Eles simbolizam a concupiscência carnal, com todas as suas brutais violências, e que torna o homem semelhante às bestas quando não é equilibrada pela força espiritual. São a espantosa imagem da dupla natureza do homem – uma, bestial, e a outra, divina. São a antítese do cavaleiro, que amansa e domina as forças elementares, ao passo que os Centauros. à exceção de um Quirão e de seus irmãos, são dominados pelos instintos selvagens descontrolados. Também se fez do Centauro a imagem do inconsciente, de um inconsciente que se assenhoria da pessoa, livra-a dos seus impulsos e abole a luta interior.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

Quíron, o curador. Fonte: The Interdependence Project.

Quíron

Um centauro famoso por seu discernimento e pela amplitude de seus conhecimentos, filho de Cronos e de Fílira, uma oceanide. Seu físico (metade homem e metade cavalo) devia-se à circunstância de Cronos ter-se unido a Fílira metamorfoseado em cavalo para engendrá-lo.

Quíron, que era imortal, morava numa gruta situada no sopé do monte Pelíon, na Tessália, e se distinguia dos demais centauros por sua benevolência para com os homens.

Além de Aquiles Quíron educou, entre outros, Asclépio e Jáson, e o próprio Apolo ouviu suas lições, que versavam sobre música, ética, medicina, caça e guerra.

Quando Heraclés massacrou os centauros, Quíron, que lutou ao lado do herói, foi ferido casualmente por uma de suas flechas envenenadas. Quíron recolheu-se à sua gruta, e as dores causadas pelo ferimento incurável eram tão fortes que ele queria morrer, mas não podia por ser imortal. Na ocasião Prometeu, que estava acorrentado a um rochedo no monte Cáucaso, trocou sua condição de mortal pela imortalidade do centauro, que assim se livrou do sofrimento graças à morte.

Dicionário de Mitologia Grega e Romana, M. da G. K.

Folo

Um centauro da região de Foloe, filho de Sileno e de uma ninfa dos carvalhos.

Durante a caçada ao javali de Erímanto, Heraclés encontrou-se com Folom, que o recebeu hospitaleiramente oferecendo-lhe carne assada enquanto comia carne crua. Heraclés pediu vinho e Folo alegou que lá havia apenas um odre, pertencente a todos os centauros. O herói disse-lhe que não havia motivos para temores, mas quando o odre foi aberto os outros centauros, atraídos pelo odor do vinho, correram para gruta onde morava Folo, armados de tochas, árvores e até rochedos. Heraclés teve de lutar contra eles, matando alguns deles.

Enquanto os centauros enterravam seus companheiros mortos pelo herói, Folo arrancou uma flecha do corpo de um deles e perguntou como a flecha, tão pequena, podia causar a morte. Nesse ínterim uma flecha o atingiu e o feriu mortalmente. Heraclés proporcionou-lhe funerais condignos.

Dicionário de Mitologia Grega e Romana, M. da G. K.


Verde

O verde, o valor médio, mediador entre o calor e o frio, o alto e o baixo, equidistante do azul celeste e do vermelho infernal – ambos absolutos e inacessíveis – é uma cor tranquilizadora, refrescante, humana. A cada primavera, depois do inverno provar ao homem de sua solidão e sua precariedade, desnudando e gelando a terra que ele habita, esta se reveste de um novo manto verde que traz de volta a esperança e ao mesmo tempo volta a ser nutriz.

O verde está ligado ao raio. É a cor da esperança, da força, da longevidade (e, por outro lado, também da acidez). É a cor da imortalidade universalmente simbolizada pelos ramos verdes. O desencadear da vida parte do vermelho e desabrocha no verde.

O verde – envolvente, tranquilizante, refrescante e tonificante – é celebrado nos monumentos religiosos erigidos no deserto por nossos ancestrais. Para os cristãos, a Esperança, virtude teologal, permanece verde. [...tem uma parte aqui...] No Islã, o verde é, ainda, a cor do conhecimento, e a do Profeta. Os santos, em sua morada paradisíaca, vestem-se de verde.

Benéfico, o verde reveste-se portanto de um valor mítico, dos paraísos verdes dos amores infantis: também verde, como a juventude do mundo, é a juventude eterna prometida aos Eleitos. A verde Erin, antes de tornar-se o nome de Irlanda, era o da ilha dos bem-aventurados do mundo celta. Os místicos alemães associam o verde ao branco para qualificar a Epifania e as virtudes cristãs, a justiça do verde vindo completar a inocência do branco.

Essas maravilhosas qualidades do verde levam a pensar que essa cor esconde um segredo, que ela simboliza um conhecimento profundo, oculto, das coisas e do destino. A virtude secreta do verde vem do fato de ele conter o vermelho, da mesma forma que, usando a linguagem dos hermetistas e dos alquimistas, a fertilidade de toda obra provém do fato do princípio ígneo – princípio quente e masculino – animar o princípio úmido, frio, feminino. Em todas as mitologias, as divindades verdes da primavera hibernam nos infernos onde o vermelho ctoniano as regenera. Por isso, são exteriormente verdes e interiormente vermelhas, e seus domínios estendem-se sobre os dois mundos. Osíris, o verde, foi despedaçado e jogado no Nilo. Ele ressucita graças à magia de Ísis, a vermelha. É um Grande Iniciado, pois conhece o mistério da morte e do renascimento. Por isso, preside simultaneamente na terra à renovação da primavera e, sob a terra, ao julgamento das almas. Perséfone aparece na terra na primavera, com os primeiros brotos dos campos. No outono volta aos infernos, aos quais está presa para sempre desde que comeu uma semente de granada. Essa semente de granada é o seu coração, parcela do fogo interior da terra que condiciona toda regenerescência: é o vermelho interno de Perséfone verde.

Na tradição Órfica, o verde é a luz do espírito que fecundou no início dos tempos as águas primordiais, até então envoltas em trevas. Para os alquimistas é a luz da esmeralda que penetra os maiores segredos. A partir disso é possível compreender o ambivalente significado do raio verde: se ele é capaz de tudo atravessar, é portador tanto de morte quanto de vida. Pois, e é aqui que a valorização do símbolo se inverte, aos brotos primaveris opõe-se o verde do mofo, da putrefação – existe um verde de morte, assim como um de vida.

A esmeralda, que é uma pedra papal, é também a de Lúcifer antes de sua queda. Embora o verde, enquanto medida, fosse o símbolo da razão – os olhos de Minerva – na Idade Média, tornou-se também o símbolo do irracional e o brasão dos loucos. Essa ambivalência é igual à de todo símbolo ctoniano: Satanás, num vitral da Catedral de Chartres, de pele e olhos arregalados verdes.

Mas a nossa época também celebra o verde, símbolo da natureza naturista, com uma veemência especial desde que a civilização industrial ameaça essa natureza. Dessa forma, o verde dos movimentos ecologistas vem acrescentar ao simbolismo inicial desta cor um tom de nostalgia, como se a primavera da terra fosse desaparecer inexoravelmente sob uma paisagem de pesadelo de cimento e de aço. Aqui, mais uma vez percebemos a inversão simbólica subjacente: pois a natureza verde não foi sempre uma imagem de apaziguadora doçura; a Amazônia, pulmão do mundo, que Uriburu e os movimentos ecologistas defendem com justa causa, não faz muito tempo era chamada de inferno verde.

Os alquimistas, na sua busca de resolução dos contrários, talvez tenham ido mais longe do que a nossa imaginação. Definem seu fogo secreto, espírito vivo e luminoso, como um cristal translúcido, verde, que se funde como a cera; é ele, diziam, que a natureza utiliza subterraneamente para todas as coisas que a Arte produz, pois a Arte tem de limitar-se a imitar a natureza.

Ao interpretar esses dois aspectos essenciais do verde, cor natureza e fêmea, os especialistas modernos da comunicação e do marketing concluíram, depois de testes e sondagens, que o verde era a cor mais calma que existe, uma cor sem alegria, sem tristeza, sem paixão, que nada exige. O verde é, na sociedade das cores, o que a burguesia é na dos homens: um mundo imóvel, satisfeito, que mede os seus esforços e conta o seu dinheiro. É também o verde da justiça de Angelus Silesius.

A linguagem dos símbolos, ao mesmo tempo viva e esotérica como a língua verde, não é feita para fechar portas, mas para abri-las à reflexão. Está intimamente ligada à vida infinita dos sentimentos e pensamentos, o que a diferencia de nossas tentativas de trabalho com a psicologia aplicada que atende a algo finito e preciso. Muitas vezes o que essa profunda língua diz só é percebido a posteriori, criando, através dos séculos e das civilizações, diálogos inesperados.

O verde conserva um caráter estranho e complexo, que provém de sua polaridade dupla: o verde do broto e o verde do mofo, a vida e a morte. É a imagem das profundezas e do destino.


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