terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A ESTRUTURA DO SIGNO DE CAPRICÓRNIO I


A Constelação de Capricórnio. Fonte: Mexican Skies.

Hoje às 7h 42min (hora de brasília) terminou mais uma fase da jornada solar em torno do zodíaco – foi a etapa do signo de Capricórnio.

Para um morador do Rio de Janeiro, onde facilmente se enfrenta 40, 50, 150 ou até 200º C, os valores associados a esse signo ou a seu regente podem desfocar um pouco a nossa perspectiva. Sim, o regente do signo de Capricórnio – Saturno – está associado a algo bem seco e bem frio. A secura marcou presença por aqui nesses dias – não chove e falta água direto nas grandes cidades – mas e o frio? Onde se deparar com o frio que não seja morando dentro de um ar condicionado? Até nos trópicos essa época é uma época de concentração – ainda que seja a concentração do ar (ofício do ar condicionado), para que todas as coisas não se expandam até explodir com o calor sem limites.

É com o suor do esforço saturnino que daremos sequência à série de resumos e fragmentos de mitos, símbolos, imagens e palavras. A intenção desde o início é a de sugerir a atmosfera de cada uma das doze estações que completam o ciclo zodiacal.

Como de costume, o primeiro material a surgir será sobre Capricórnio e sobre o símbolo associado da Cabra. Logo adiante trataremos de Cronos e Saturno, deuses associados a essa fase do ano tanto para os antigos gregos quanto para os romanos.

A cor Preto será abordada em seu aspecto simbólico, já que se trata de uma cor relacionada às qualidades do signo de Capricórnio. Mas também, veremos algo sobre o planeta Saturno do ponto de vista astronômico, seguido de uma perspectiva mais filosófica que, como já é de costume, encerra esta estação com as palavras de Dane Rudhyar.

E, mais uma vez, espero que gostem.


O símbolo Capricórnio

Décimo signo do Zodíaco, que, no hemisfério norte, começa no solstício de inverno – a porta dos deuses – quando a morte aparente da natureza corresponde à plenitude espiritual, à epoca em que a engenhosidade do homem atinge seu ponto máximo, pois ele está liberado das labutas sazonais. Símbolo do fim de um ciclo e, sobretudo, do início de um ciclo novo: é o signo que inaugura o Zodíaco do Extremo Oriente. Exprime a paciência, a perseverança, a prudência, a industriosidade, a realização, o sentido do dever. Saturno é o seu ascendente.

Para o hemisfério norte, o Capricórnio simboliza o despojamento, a retração e a concentração do inverno em sua severa grandeza. Esse ponto de partida une-se dialeticamente a uma noção de chegada, de destinação, de objetivo, concebido como um meio-dia terrestre, um ponto culminante.

O signo é representado por um animal fabuloso, metade bode, metade delfim, ou por uma cabra, quadrúpede trepador, atraído pelos cumes. É regido por Saturno que, por sua vez, está associado a tudo o que é duro, ingrato, sombrio e obscuro, impiedoso deus do tempo que cristaliza o homem em suas ambições supremas, quando não o condena ao despojamento e à renúncia.

A natureza capricorniana traz a marca desse universo frio, silencioso, imóvel. Edifica-se sobre um movimento inicial de retraimento em si mesmo e de concentração; a vida deserta o aspecto exterior desse personagem que possui, muitas vezes, as características da grisaille (pintura monocromática, séc. XVII; de tonalidade basicamente cinzenta) com sua simplicidade, sobriedade e total ausência de brilho; refugia-se nas profundezas de seu ser. E a lenta elevação dessas forças profundas, cuja existência é com frequência ignorada pela própria pessoa, é o que lhe permite afirmar seu valor, assegurando-lhe o pleno domínio de si mesma. Esse autodomínio costuma ser o resultado de um paciente treinamento da vontade, exercida para afirmar seu comando sobre o instinto e a sensibilidade. Disso deriva a predominância das virtudes frias; pelo menos, quando o fracasso dessa auto-realização não provoca no capricorniano uma fuga para a taciturnidade, o pessimismo ou a melancolia.

A figura simbólica desse signo – corpo de bode, rabo de peixe – revela a natureza ambivalente do capricorniano, entregue às duas tendências da vida: em direção ao abismo ou às alturas, em direção à água ou à montanha. Ele encerra as possibilidades inversas, evolutivas e involutivas, e somente numa perpétua tensão entre suas inclinações opostas consegue encontrar um difícil equilíbrio.

Deus egípcio Khnum. Fonte: The Journey into Egipt Tarot.

O simbolismo da Cabra

Certas povoações da China estabelecem uma relação entre a cabra e o deus do raio: a cabeça da cabra sacrificada serve de bigorna ao deus. Essa mesma relação entre o raio e a cabra é atestada no Tibete. Ela representa, em suma, um instrumento de atividade celeste em benefício da terra, e até mesmo, mais particularmente, da agricultura e da criação de animais. O cabrito Montês é um animal associado aos deuses da fertilidade em Susa (cidade da Assíria)

Entre os gregos, a cabra simboliza o relâmpago. A estrela da Cabra, na constelação do Cocheiro, anuncia a tempestade e a chuva; e foi com o leite da cabra Amaltéia que Zeus se alimentou.

A ideia de associar a cabra à manifestação do deus é muito antiga. Segundo Diodoro da Sicília (hist. grego do século de Augusto), cabras teriam dirigido a atenção dos homens de Delfos para o lugar onde saía fumaça das entranhas da terra. Tomadas de vertigem, elas dançavam. Intrigados com essas danças, alguns homens compreenderam o sentido dos vapores que emanavam da terra: eles deviam interpretar aquela teofania; e então, instituíram um oráculo.

Uma vestimenta denominada cilicium (cilício), tecida de lã de cabra, era usada por certos romanos, e pelos sírios, no momento da prece, para simbolizar sua união com a divindade. Entre os cristãos, o uso ascético do cilício adquire o mesmo sentido, com a intenção de mortificar a carne como penitência, e de liberar assim a alma vivificada que almeja se entregar plenamente ao seu deus. O uso dessa vestimenta evoca o hábito de burel (tecido grosseiro de lã) dos monges.

A esse propósito, notemos que a palavra sufi (fr. soufi) proviria, segundo a tradição mais aceita no Oriente, de suf, termo que designa o feltro de pêlo de cabra com o qual se fazia ritualmente a vestimenta dos dervixes de certas confrarias místicas muçulmanas, particularmente severas em seus regulamentos internos.

Os órficos comparam a alma iniciada a um cabrito caído dentro do leite, i.e., que vive do alimento dos neófitos para alcançar a imortalidade de uma vida divina. Nas orgias dionisíacas (bacanais), a pele dos cabritos degolados vestia as Bacantes. Às vezes, o cabrito designa Dioniso (Baco) em transe místico. É o recém-nascido para uma vida divina. Zeus, quando criança, sugava o leite da cabra Amaltéia que foi transformada em ninfa, depois em deusa nutridora, e em seguida em filha do Sol.

Em todas essas tradições, a cabra aparece como símbolo da ama-de-leite e da iniciadora, tanto no sentido físico como no sentido místico das palavras.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

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