quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O ESPAÇO DO SIGNO DE AQUÁRIO II


A mutilação de Urano por Saturno, de G. Vasari e C. Gherardi. Fonte: Wikipedia.

O simbolismo do planeta Urano

Este planeta, descoberto em 13 de março de 1781 por William Herschel, representa, na astrologia, a força cósmica que provoca as mudanças e agitações repentinas, bruscas e imprevistas, das intervenções, das criações originais e do progresso.

O espírito novo que há dois séculos inspira a humanidade provém principalmente deste astro, que é, aos olhos da astrologia, o verdadeiro criador do mundo moderno, fundado sobre os princípios da Revolução Francesa, no plano social, e sobre a maquinaria e a industrialização, na esfera do trabalho.

O seu domicílio é o Aquário, que divide com Saturno. No organismo humano, ele rege os nervos e as doenças provocadas por sua influência; são doenças nervosas, os espasmos, as cãimbras e os enfartes.

O processo uraniano situa-se, originalmente, como um momento de cólera do Caos: é o despertar do fogo primordial. Diante do deus dos oceanos há, portanto, o deus do céu, cuja ambição primeira é libertar-se do indiferenciado, do oceânico e, consequentemente, elevar-se, altear-se, como se quisesse individualizar-se ao máximo.

Tudo o que liberta o homem da terra, que o eleva ao céu, que é o seu império mitológico, e o orienta em direção ao absoluto do esforço vertical está sob os seus auspícios, desde o mais simples arranha-céu até o foguete interplanetário, passando pelo avião e pelo satélite artificial...

Este processo uraniano desenvolve-se sobre a linhagem do homem-prometeu; este é verdadeiramente o raptor do fogo celeste, instintivamente voltado para as proezas e as façanhas; trata-se sempre de bater um recorde, de fazer mais ou de ir mais longe que o anterior. Possuído pelo instinto de excessivo e de força, é o homem do progresso em busca de uma nova era, se não fracassar na aventura de aprendiz de feiticeiro.

No fundo desse processo distingue-se o arquétipo da hiperindividualização, que particulariza o ser humano numa originalidade superpersonalizante, geralmente no paroxismo do Ego, em busca da mais explosiva unidade, e voltado para o absoluto.


O deus Urano

Deus do Céu, na teogonia de Hesíodo. Símbolo de uma proliferação criadora sem medida e sem diferenciação, que destrói, por sua própria abundância, tudo que engendra.

Caracteriza a fase inicial de toda ação, com sua alternância de exaltação e depressão, de impulso e queda, de vida e morte dos projetos. Vem a simbolizar desse modo o ciclo dos desenvolvimentos.

Deus celeste das religiões indo-mediterrâneas, um dos símbolos da fecundidade, ele é representado pelo touro. Mas essa fecundidade é perigosa. Como bem observou P. Mazon no seu comentário à Teogonia de Hesíodo, a mutilação de Urano põe fim a uma fecundidade odiosa e estéril, introduzindo no mundo, com a aparição de Afrodite (nascida da espuma ensanguentada do membro gerador uraniano), a ordem, a constância das espécies, e tornando assim impossível toda procriação desordenada e nociva.

Com base na mitologia grega, André Virel caracterizou perfeitamente as três fases essenciais da evolução criadora. Urano (sem equivalente romano) situa-se na primeira fase: a efervescência caótica e indiferenciada, denominada cosmogênese.

Cronos (Saturno) intervém na segunda fase, a da esquizogênese: ele corta, divide. E quem, com um golpe de foice sobre os órgãos de seu pai, põe um fim a suas secreções indefinidas. Representa um tempo de suspensão. Ele é o regulador que bloqueia toda criação do universo... o ponto fixo da onda estacionária, a vida no seu lugar, sem avançar, sempre idêntica a si mesma. Ele é o tempo simétrico, o tempo de identidade.

O reino de Zeus (Júpiter) caracteriza-se por um novo início, mas um início organizado e ordenado, e não mais anárquico e sem controle, que André Virel chama autogênese.

Depois da descontinuidade da época precedente, cujas paradas, tempos, medidas, fixações permitiram uma primeira classificação, a continuidade da evolução recomeça. É o momento em que o homem toma claramente consciência de si mesmo, ao mesmo tempo em que toma consciência das relações de causalidade, da delimitação dos seres e das coisas que ele apreende nas suas analogias e suas diferenças... A história mitológica dos deuses esclarece (então) a história dos homens.

A mitologia é assim apresentada como uma psicologia projetada no mundo exterior, não apenas uma psicologia individual, como a entendia Freud, mas também uma psicologia coletiva, como a concebe Jung.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

Mosaico de Urano e Geia. Fonte: Wikipedia.

O mito do deus Urano

O céu personificado, filho de Gaia (a Terra), ou de Áiter.

Na teogonia órfica Urano e Gaia eram irmãos, filhos de Nix (a Noite), e em outra genealogia Urano era omarido de Gaia, com a qual teve numerosos filhos, entre os quais estavam os seis Titãs e as seis Titanides, os três Cíclopes e os três gigantes Hecatônqueires.

Gaia, desgostosa de tanto procriar, pediu aos seus filhos proteção contra a insaciabilidade amorosa de Urano. O único a concordar com seu pedido foi Cronos (o filho mais novo), que, armado com uma foice afiadíssima, preparou uma emboscada contra o pai, castrou-o e lançou-lhe os testículos no mar.

A mutilação teria ocorrido no cabo Drêpanon, cujo nome derivaria da foice de Cronos (Drêpanon em grego – foice). Noutras fontes o local teria sido a ilha de Côrcira (a atual Corfu), que se chamou sucessivamente Drêpanon, Feácia e Esquéria; essa ilha, cuja forma lembra uma foice, seria a própria foice de Cronos lançada no mar, e os feácios, seus habitantes, teriam nascido do sangue de Urano.

Numa terceira versão a mutilação teria ocorrido na Sicília, cuja fertilidade seria uma consequência do sangue divino derramado sobre o seu solo.

Numa versão divergente da lenda, de fundo racionalista, Urano aparecia como o primeiro rei dos atlântios, habitantes de um território extremamente fértil situado nos confins do Ocidente, nas margens do Oceano, reverentes para com os deuses, que teriam nascido entre eles, e generosos para com os povos vizinhos. Eles viviam isolados uns dos outros, e Urano reuniu-os numa cidade amuralhada, ensinando-lhes o uso dos frutos cultivados e a maneira de guardá-los, além de outras instituições úteis.

Sendo um observador atento dos astros, Urano previa muitos fenômenos ocorrentes no mundo e introduziu o calendário com base no movimento do sol e da lua, instruindo os atlântios a respeito das estações que se sucediam ano após ano. Esses homens, até então ignorantes do movimento eterno dos astros e maravilhados com o acerto das previsões de Urano, imaginaram que ele fosse um deus, e depois de sua morte passaram a tributar-lhe honras divinas, dando o seu nome ao próprio céu.

Atribuiam-se a Urano e a Gaia duas profecias: a de que o reinado de Cronos terminaria quando ele fosse vencido por seus próprios filhos, e a de que Zeus deveria precaver-se contra a criança que teria de Métis. Receoso dessa profecia, Zeus engoliu Métis quando ela estava grávida de Atena.

Dicionário de Mitologia Grega e Romana, M da G. K.


A lenda de Geia e Urano

Geia primeiro engendrou o estrelado Urano. Ela o fez semelhante a si mesma, para cobri-la e envolvê-la por todos os lados, tornando-a assim um lugar seguro para os deuses venturosos.

Após se unir a Urano, Geia concebeu: Oceano, de profundos redemoinhos, Ceos, Crio, Hiperíon e Jápeto; Teia, Reia, Têmis, Mnemósina e Febe, de dourada coroa, além da amorosa Tétis. Depois desses, nasceu o astuto Crono, o mais jovem e o mais terrível dos filhos, que odiou seu vigoroso pai.

E todos os filhos que nasceram de Geia e Urano, filhos terríveis, foram odiados desde o começo por seu pai. Assim que nasciam, ele os escondia nas profundas entranhas de Geia, impedindo-os de sair à luz.

Urano se comprazia por seus feitos malignos, enquanto a prodigiosa Geia gemia, sob sua opressão. Então Geia criou uma espécie de pedra dura e cinzenta, com a qual entalhou uma grande foice e, ousadamente, revelou aos filhos o plano que havia concebido, dizendo o quanto estava aflito o seu coração.

“Filhos meus, gerados por um pai brutal! Se me atenderdes, juntos nos vingaremos do cruel ultraje de vosso genitor, uma vez que foi ele quem primeiro concebeu ações tão indignas.” Assim disse Geia, mas como o temor se apoderasse de todos eles, nenhum disse uma palavra sequer.

Apenas o grande Crono, o de mente tortuosa, teve coragem e respondeu à sua prudente genitora com estas palavras: “Mãe, eu posso me encarregar dessa empresa, pois não reverencio nosso pai, de maligno nome, por ter sido ele quem primeiro tramou ações indignas”.

Assim ele falou, e a prodigiosa Geia sentiu grande alegria em seu coração. Colocou o filho escondido, pronto para uma emboscada, e revelou seu ardiloso plano, armando suas mãos com a foice afiada, entalhada como um aguçado dente.

Com a chegada da noite, aproximou-se Urano, desejoso de amor, e estendeu-se sobre Geia, cobrindo-a completamente. Então, de seu esconderijo, o filho estendeu a mão esquerda e o tocou. Com a mão direita, tomou a foice, semelhante a um enorme dente, e cortou rapidamente os genitais do pai, lançando-os a esmo para trás de si.

Teogonia, H.

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